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segunda-feira, 26 de março de 2012


João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, FHC, Lula e, agora, Dilma

sequencia-capas
Caras e caros,
recebi alguns comentários curiosos sobre a entrevista exclusiva concedida pela presidente Dilma Rousseff à VEJA, capa da revista desta semana. Foi entrevistada por Eurípedes Alcântara, diretor de Redação, e pelos redatores-chefes Lauro Jardim, Policarpo Júnior e Thaís Oyama. O que há de espantoso quando o chefe — no caso, a chefe — do Executivo concede uma entrevista à maior revista do país, uma das maiores do mundo? De espantoso, nada! Os motivos estão dados pelos termos da equação. De notável, deve-se destacar o fato de que o texto será lido por milhões de pessoas.
Se a entrevistado der respostas consistentes, melhor pra ele; se não, então pior. Nas democracias, as coisas funcionam assim: as perguntas pertencem a quem pergunta, e as respostas, a quem responde. Os leitores de VEJA, cada um segundo os seus valores e seus critérios de análise, farão o seu juízo.
Quaisquer outras especulações sobre motivações subterrâneas são, perdoem-me a franqueza, bobagem! Como lembra a “Carta ao Leitor” desta semana, a revista entrevistou João Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, FHC, Lula e, agora, Dilma. Trata-se de uma obrigação — não uma obrigação legal, mas jornalística. Alimentar, contra os fatos, contra a história, teorias as mais rocambolescas para explicar por que Dilma concedeu uma entrevista e é capa (a exemplo daqueles que o antecederam) é desses delírios que revelam ou ingenuidade ou má fé. Saber o que pensa o governante, como vê o mundo, como enxerga a realidade é, reitero, um imperativo de uma revista como VEJA.
Assim, minhas caras, meus caros, deixem as teorias conspiratórias e as bobagens para aquela gente esquisita, que ainda não entendeu como funciona a democracia. A entrevista com Dilma Rousseff significa nada além disto: a chefe do Executivo diz o que pensa à maior revista do país. “É uma coisa boa que o presidente da República fale à imprensa — ponto”, para citar uma Carta ao Leitor de 1979 e a desta semana.
Reproduzo, abaixo, a abertura do texto e duas de suas respostas.
*
Aos olhos de muita gente, a presidente Dilma Rousseff deveria estar orna pilha de nervos na semana passada. Ela vinha de uma viagem à Alemanha, onde pareceu, inadequadamente, dar lições de governança à chanceler Angela Merkel. Na reunião que teria com os maiores empresários brasileiros, ela lhes daria ”um puxão de orelha”. E, para completar o quadro recente de tensão, a base aliada do seu governo no Congresso estava em franca rebelião, contrariando seguidas iniciativas do Palácio do Planalto nas votações. Como pano de fundo da semana caótica, havia o fato de Dilma ainda não ter convencido a opinião pública de ser a grande gestora que o eleitorado escolheu para governar o Brasil em 2010. Como escreve nesta edição J.R. Guzzo, colunista de VEJA, capturando uma sensação mais ampla, “a maior parte das atividades do governo brasileiro hoje em dia poderia ser descrita como ficção”.
Mas Dilma não estava nem um pouco tensa quando recebeu a equipe de VEJA (Eurípedes Alcântara, diretor de redação, e os redatores-chefes Lauro Jardim, Policarpo Júnior e Thaís Oyama) na tarde de quinta-feira passada para uma conversa de duas horas em uma sala contígua a seu gabinete de trabalho no Palácio do Planalto, em Brasília.
Dilma vinha de encerrar a reunião com os empresários, em que, disciplinadamente, cada um dos 28 presentes teve cinco minutos para falar, e não pareceu ter dado - ou levado - metafóricos puxões de orelha. “Tivemos uma conversa séria. Coisa de país que sabe onde está no mundo e aonde quer chegar”, disse ela.
“Ficamos todos de acordo que os impostos têm de cair, os investimentos privados e estatais têm de aumentar e o que precisar ser feito para elevar a produtividade da economia brasileira e sua competitividade externa será feito.” Para quem vinha tendo os ouvidos atacados pelo buzinaço estéril da “guerra cambial” contra o Brasil - expressão que, como se verá na entrevista a seguir, ela não acha própria -, a frase de Dilma, mesmo sem a sonoridade do português castiço, soa como música.
É saudável quando o governante não põe em inimigos externos toda a culpa por coisas que não funcionam. Melhor ainda quando reconhece que seu próprio campo, além de não ter soluções para tudo, é também parte do problema. “Não dá para consertar a máquina administrativa federal de uma vez, sem correr o risco de um colapso. Nem na iniciativa privada isso é possível. No tempo que terei na Presidência vou fazer a minha parte, que é dotar o estado de processos transparentes em que as melhores práticas sejam identificadas, premiadas e adotadas mais amplamente. Esse será meu legado. Nosso compromisso é com a eficiência, a meritocracia e o profissionalismo.”
“Eu disse aos empresários que seremos aliados nas iniciativas para aumentar a taxa de investimento da economia - e não mais apenas o crédito para o consumo”, contou ela. Suas propostas lembram o gato do chinês Deng Xiaoping. Não importa a cor. O que interessa é que ele cace ratos. Dilma Rousseff, porém, continua sendo a Dilma da lenda da mulher durona, de coração nacionalista. Confrontada com as críticas de que a Petrobras não pode ser um braço de política industrial do governo, ela reagiu: “A Petrobras tem de saber que o petróleo é do Brasil e não dela”. Felizmente. Dilma admite que a extração do petróleo do pré-sal tem prioridade até sobre a sacrossanta exigência de 65% na taxa de nacionalização dos equipamentos - o que inviabiliza ou encarece muitas operações. Ela não verbaliza que a taxa pode ser reduzida, mas diz que, entre a manutenção do patamar de nacionalização e a garantia de produção dos campos do pré-sal, fica com a produção.
Pôr a culpa das reais distorções do Brasil em pressões produzidas no exterior não é uma maneira de fugir dos problemas?
Primeiro, não é verdade que estejamos agindo dessa maneira. É uma simplificação grosseira supor que o governo brasileiro considere as pressões externas a única causa de nossos problemas. Segundo, ignorar que existem fortes externalidades agindo sobre a economia brasileira é um erro que não podemos cometer, sob pena de arriscar a prosperidade nacional, a saúde de nossa base industrial e os empregos de milhões de brasileiros. Terceiro, os fatores exógenos são reais e não podem ser subestimados.
A senhora se refere ao que chegou a ser chamado de “guerra cambial”?
Não acho adequado ver o fenômeno do tsunami de liquidez que foi criado pelos países ricos em crise como uma agressão proposital às demais nações. Mas a saída que eles encontraram para enfrentar seus problemas é uma maneira clássica, conhecida, de exportar a crise. Quando o companheiro Mario Draghi (economista italiano, presidente do Banco Central Europeu) diz “vamos botar a maquininha que faz dinheiro para rodar”, ele está inundando os mercados com dinheiro. E o que fazem os investidores? Ora. eles tomam empréstimos a juros baixíssimos, em alguns casos até negativos, nos países europeus e correm para o Brasil para aproveitar o que os especialistas chamam de arbitragem, que, grosso modo. é a diferença entre as taxas de juros praticadas lá e aqui. Eles ganham à nossa custa. Então, o Brasil não pode ficar paralisado diante disso. Temos de agir. Temos de agir nos defendendo - o que é algo bastante diferente de protecionismo.
(…)
Por Reinaldo Azevedo

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