Somente
os muito ingênuos acreditam que os partidos brigam por cargos
interessados em ajudar o governo a fazer o bem do país – e nada mais.
Nunca foi assim. E pelo jeito jamais será.
Os
partidos ambicionam cargos para roubar. O dinheiro enche os bolsos dos
seus dirigentes e financia campanhas que custam cada vez mais caro. É
simples assim.
Surpreso? Não brinque.
Candidato rico pode até gastar parte do seu dinheiro para se eleger. São raros.
O
senador Blairo Maggi (PR-MT) talvez seja um deles. Sua fortuna cresceu
356% entre 2006 e 2010 quando governou Mato Grosso pela segunda vez
consecutiva. É o rei da soja. E a soja, sabe como é...
De
remediado para baixo, candidato usa o dinheiro dos outros para se
eleger. E fica devendo favores que depois tenta pagar no exercício do
mandato.
Emplacar um protegido em cargo de relevo é meio caminho
andado para pagar o que deve e sair com lucro. Perguntem ao experiente
senador José Sarney se não é...
Há uma secretária de empresa
estatal da área de energia que só faz uma coisa durante o expediente:
cuidar dos interesses do senador. Ora ela atende o próprio, ora algum
dos filhos dele.
Antes que passe pela cabecinha de Sarney a ideia
de me processar, adianto logo: tudo o que ele faz, tudo mesmo, é legal.
Fui claro? Fui convincente?
Estamos conversados. Adiante.
O
PT só chegou ao poder que de fato importa quando resolveu se comportar
como os demais partidos. Lula cansara de perder. Então arquivou a
vergonha.
Certo dia, entre 1998 e 2002, chamou José Dirceu e disse
mais ou menos isto: “Só serei candidato pela quarta vez se for para
ganhar. E para ganhar vale tudo”.
Valeu, por exemplo, comprar o
passe do Partido Liberal (PL) de Valdemar Costa Neto por pouco mais de
R$ 6 milhões. Lula assistiu à compra sentado num terraço de apartamento,
em Brasília.
Parte do dinheiro para a compra foi doada pelo seu
então candidato a vice, José Alencar. O apoio do PL resultou em mais
tempo de televisão e de rádio para Lula. Apoio de partido vale por isso.
No
primeiro mandato, Lula recusou-se a pagar o preço pedido pelo PMDB para
apoiá-lo. O PMDB queria cargos, muitos cargos. E autonomia para tirar
proveito deles.
Contrariando José Dirceu, Lula imaginou que
poderia governar comprando apoios a cada votação importante no
Congresso. O mensalão derivou disso. E deu no que deu.
O
loteamento do governo consumou-se no segundo mandato. E foi responsável
pela montagem da coligação de 11 partidos que apoiou Lula e que depois
apoiaria Dilma.
Pergunte a qualquer ex-presidente da República se
os partidos que governaram junto com ele não se aproveitaram de cargos
para roubar. Pensando melhor, não pergunte.
Todos negarão que isso tenha ocorrido. Há assuntos sobre as quais não se fala.
Na
vida real, os governantes admitem certa margem de roubo. Caso o roubo
vire um escândalo e o ameace, ele é obrigado a limpar a área. Os
partidos e eventuais ocupantes de cargos públicos concordam que ele
proceda assim. Desde que ninguém vá preso.
No programa “Zorra
Total” da RedeGlobo de Televisão, no último sábado, ouvi o comentário de
um personagem cínico e ao mesmo tempo engraçado: “Voltar? Dinheiro de
corrupção? Não volta. Volta vestido tubinho. Volta pantalona. Mas
dinheiro de corrupção não volta”.
Bingo! É da regra do jogo. Sem prisão– salvo se temporária e curta. Sem devolução.
A verdade é relativa em países considerados livres. Em países dotados de regimes autoritários, existem verdades absolutas.
Posso
dizer, por exemplo, que Dilma tem-se mostrado mais intolerante do que
Lula com a corrupção. Ou posso dizer que Dilma não tem o cacife que Lula
tinha para tolerar a corrupção. Assim será se lhe parecer.
Uma
vez denunciados pela imprensa, Dilma livrou-se no curto período de 11
meses de governo de cinco ministros suspeitos de envolvimento com
irregularidades. Tem um sexto aí na bica.
Em qualquer outro lugar
já se teria dito com todas as letras e a ênfase necessária que o governo
apodreceu. Sim senhor, apodreceu. Está dito.