Deixem
que eu lhes diga uma coisa: não sou hiena, não ataco em bando. Eu não
faço parte de grupo nenhum — de “progressistas”, “reacionários”,
“centristas”, o que for… Sou católico, por exemplo. A esmagadora maioria
me apóia na minha crítica severa, sem concessões, ao abortismo. Quando
me digo, no entanto, favorável à união civil de homossexuais — o que não
quer dizer que concorde com a absurda decisão do Supremo, tomada contra
a letra da Constituição —, muitos lamentam e dizem que minhas
convicções são fracas. Fazer o quê? Defendo até mesmo que pares
homossexuais (e não “casais”, né?) adotem crianças, satisfeitas algumas
condições (que considero também exigíveis dos héteros), mas acho a tal
lei que pune a homofobia facistóide. O mundo não é plano. Eu escolho, em
suma, um mundo de liberdades individuais sem violação da ordem legal e
institucional — que tem, quando é o caso, de ser mudada.
Alguns
cretinos do que passei a chamar JEG (vou mudar a definição: de agora em
diante, “Jornalismo da Esgotosfera Governista”) acusam-me de integrar a
tal imprensa golpista. Pois é… Se o JEG ataca sempre em bando, e ataca,
não somos assim. Há gente demonizada pelos “jeguistas” que também me
detesta — e a recíproca é verdadeira. Se existe um fato sobre os
jornalistas que não estão submetidos ao tacão governista, o fato é este:
CADA UM É LIVRE À SUA MANEIRA. Ou liberdade não há.
Se um dia
resolver contar a minha vida sem importância, um fato merecerá destaque.
Uma professora disse que eu levava jeito pra escrever quando, ainda
menino, fiz uma redação contestando o slogan publicitário: “Liberdade é
uma calça velha, azul e desbotada”. Argumentei que, se liberdade era
aquilo, então liberdade não era. Afinal, as pessoas deveriam ser livres
para não usar a calça. A mestra gostou. Huuummm… Comprei o meu primeiro
jeans há uns quatro anos, já aos 46! Antes disso, só usava calça de
alfaiataria, mesmo quando era pobre pra chuchu. Uma tia costurava. Tenho
uma foto, num dia meio frio, posando (Emir Sader escreveria “pousando”)
numas pedras no meio de um riacho, em Visconde de Mauá, no estado do
Rio. Aquela maconheirada meio esculhambada à volta, e eu ali, de calça
de tecido e… botina!!! Deixei de usar colarinho fechado, sempre sem
gravata, mesmo em casa, não faz muito tempo. A gente tem de ser livre
até pra ser ridículo se é essa a nossa vontade. Avanço.
Tenho amigos
com quem comungo, por exemplo, a visão sobre política interna; se o
assunto é, no entanto, Oriente Médio, aí, sem trocadilho, a discordância
pode ser explosiva. Com outros, o bicho pega quando o assunto é Obama.
Com outros ainda, a coincidência é quase total, mas basta que se debata o
tal “aquecimento global” — aquela religião estranha —, e a confusão se
instaura. Há até aquele que beira os 100% de concordância… Ocorre que
ele é bicicleteiro, e eu o acuso de achar que está ajudando a salvar o
mundo com suas pedaladas. Na última altercação, afirmei que, “se selim
fosse categoria de pensamento, ficaria na cabeça, não perto da bunda”.
Era um chiste. Ele se zangou e está sem falar comigo há uns 15 dias
(deixe disso, ô sensível!!!). Espero que esteja andando de bicicleta no
Ibirapuera, não nas ruas. Zelo pela segurança dos meus amigos, hehe (lá
vai ele ficar ainda mais bravo…).
O mundo não é
plano. O mundo só é plano para mentalidades intelectualmente
delinqüentes, que pretendem lucrar com teorias conspiratórias,
oferecidas, muitas vezes, a poderosos que não tiveram tempo de elaborar
uma leitura consistente do mundo. Assim, agarram-se a algumas
facilidades e pagam por elas. Adiante.
Abaixo, reproduzo um trecho de um post publicado no Blog do Pannunzio,
do jornalista Fábio Pannunzio. Não é meu amigo. Não o conheço. Jamais
nos falamos. Já li coisas dele de que discordei radicalmente — e tenho a
certeza absoluta de que a inversa é verdadeira. Ele não é o
representante do “meu grupelho” atacando o representante do “grupelho
adversário”. Reproduzo aqui parte do seu post porque as palavras me
parecem sensatas. Quando gosto, digo “sim”; se não, então “não”. Ao
texto, notavelmente bem-escrito, o que, hoje em dia, já é uma distinção.
*
O racismo que dá lucro
Paulo
Henrique Amorim, blogueiro autoproclamado progressista e apresentador da
TV do bispo Edir Macedo, teve lucro com suas injúrias racistas. No
blog dele está estampada a manchete “Heraldo aumenta a audiência do CAf
em 42%”. O blogueiro “progressista” se ufana de sua obra: “Tem
publicidade melhor do que essa?”
Para o caso dele, não deve haver.
Se o que PHA
queria era ficar estigmatizado como o último racista assumido da
imprensa brasileira, conseguiu. Se seu objetivo era a
auto-desmoralização, ele conseguiu. Se o objetivo era sanar dúvidas
sobre seu caráter, também conseguiu. E, no fim das contas, ainda saiu
lucrando 42%.
Não foram
poucas tentativas de produzir esse resultado. Ele já havia lançado mão
do jargão racista quando chamou Paulo Preto de “Paulo Afro-Descendente”.
Heraldo foi a segunda vítima do estratagema.
PHA já havia
pedido perdão a Bóris Casoy numa situação humilhante - e, da mesma
forma, zombou do acordo assinado às pressas para evitar uma condenação. O
arauto da nova censura, chamada agora de Ley de Medios, desconhece o
Código Civil e o Código Penal. E faz troça do que ele mesmo propôs e
acordou em juízo.
Nos delírios
veiculados em seu Der Angriff eletrônico, PHA não tem o menor
constrangimento de inventar e repetir inverdades escancaradas - com
aquela em que afirmou que Heraldo havia dito que ele não é racista (se
não leu, clique aqui e aumente o lucro do blogueiro). Na Ata de Sentença
que encerrou esse capítulo do caso, é ele quem declara que foi
“infeliz” ao usar a expressão negro de alma branca, e que não teve
intenções racistas. O ofendido jamais declarou a ninguém que PHA não é
racista. Até porque ele não pensa assim.
Se PHA é ou
não racista quem vai decidir é a Quinta Vara Criminal do DF. É onde
tramita o processo crime aberto pelo Ministério Público para apurar e
punir as mesmas ofensas. Condenado, Paulo Henrique, que se gaba de
figurar como réu em mais 40 processos, pode pegar de dois a cinco anos
de reclusão. Se vai ou não para a cadeia é outra história. Mas, nessas
circunstâncias, perder a condição de réu primário seria desastroso para
ele.
Enquanto
contabiliza o lucro de seu retumbante sucesso de audiência na internet,
PHA certamente não considera o passivo que só faz aumentar no capital
volátil de sua desgastada reputação. Jornalistas, salvo algumas exceções
indecentes, vivem do que apuram e publicam. Vivem, enfim, de sua
capacidade de informar de maneira correta e honesta. Nesse caso, a
deplorável atuação do blogueiro pôs a nu um profissional que, na
ausência de fatos, inventa; na ausência de argumentos, injuria; quando
faltam palavras para injuriar, recorre ao jargão abjeto dos racistas.
Para arrematar, ainda tem a coragem e a cara de pau de alardear que
lucrou com o episódio. Faça-me o favor!
(…)