O Código Florestal e a péssima articulação política do governo no Congresso
O
Código Florestal pode ser votado hoje pela Câmara, havendo uma
possibilidade de que fique para amanhã. Eis um caso em que a
incompetência da área política do governo e a desarticulação da base
acabam jogadas nas costas largas dos chamados “ruralistas”. Por que digo
isso? O texto que havia saído do Senado não era exatamente do gosto dos
ambientalistas — porque nunca será, é bom que fique claro! — e também
não estava de acordo com tudo o que queriam os produtores rurais. Em
negociação política, as coisas costumam ser assim.
De volta à
Câmara, o deputado Paulo Piau (PMDB-MG) fez algumas mudanças no texto
aprovado pelo Senado. A principal deixa para a legislação estadual a
regulamentação da recuperação da vegetação nativa às margens dos rios,
numa escala variável a depender da largura do rio. O governo não gostou e
considera a mudança inaceitável. Ontem, petistas diziam que, se o
código for aprovado como está no relatório de Piau, Dilma recorrerá ao
veto.
Como é que o
consenso que se conseguiu produzir no Senado não se reflete na Câmara?
Porque não há interlocução política competente. Sim, a ministra Izabel
Teixeira (Meio Ambiente) acompanha a negociação, mas é evidente que o
caso demanda as luzes da Casa Civil e das Relações Institucionais.
Ocorre que Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann não apitam nada no
Congresso. Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara, ainda
não conseguiu pacificar a própria bancada, e Jilmar Tatto (SP), líder do
PT, mais parece personagem de anedota.
Nesta terça,
há reuniões marcadas para se tentar chegar a um consenso. Caso ele se
mostre inviável, a chance de que o governo perca no voto é grande. Dilma
exacerbaria o confronto e vetaria o texto? Os petistas dizem que sim — o
que, é bom deixar claro, não é bom para ninguém: produtores rurais,
governo e, obviamente, meio ambiente.
Ah, sim: o
que eu acho da tese de recuperação de áreas em que já há produção
agrícola? Qualquer redução da área destinada à produção é uma tolice, um
cretinismo, um delírio da militância ecológica. Em essência, acho que
Piau está certo, se querem saber. Mas política, às vezes, consiste em
escolher o mal menor. Entre o risco do veto e a aprovação do texto que
saiu do Senado, eu escolheria a segunda opção. De todo modo, faltou um
governo competente para negociar.
Tags: código florestal
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