Grupo português ligado a José Dirceu, “chefe de quadrilha” (segundo a PGR), assume o controle de conteúdo e publicidade do Portal iG
Vamos
lá. O grupo português OnGoing comprou parte do Portal iG, que é
controlado pela Oi. Passam para os portugueses as áreas de conteúdo e
publicidade. As de serviço digital e acesso à internet continuam com a
empresa de telefonia. A Yahoo! e o Grupo RBS também haviam demonstrado
interesse, mas perderam a parada para a OnGoing, que já estão no Brasil:
é acionista minoritária (29,1%) da empresa Ejesa, que edita os jornais
“Brasil Econômico”, “O Dia”, “Marca” e “Meia Hora”.
A acionista
majoritária (70,1%) é a brasileira nata Maria Alexandra Vasconcellos.
Ocorre que ela é casada com o português Nuno Vasconcellos, presidente do
grupo OnGoing. A lei proíbe que veículos de comunicação sejam
controlados por estrangeiros. A questão já chegou a ser discutida em uma
comissão da Câmara dos Deputados, mas ficou por isso mesmo.
Algo mais
deve ser dito a respeito da OnGoing. Trata-se de um grupo de comunicação
que tem uma forte influência do chefe de quadrilha (segundo a
Procuradoria Geral da República) e deputado cassado por corrupção José
Dirceu (PT). Nos bastidores de Brasília, ele é tratado como sócio — e
alguns chegam a dizer “dono” — do jornal “Brasil Econômico”, do qual é
colunista. Todos negam.
Evanise
Santos, namorada do “chefe de quadrilha” (segundo a PGR), é diretora de
marketing do jornal e da própria Ejesa. Dirceu tem muitos interesses e
vínculos em Portugal. Em setembro do ano passado,
a revista portuguesa “Visão” publicou uma reportagem de 12 páginas
sobre as ligações algo obscuras de Miguel Relvas, político do país, com
empresários brasileiros. Um dos protagonistas do enredo é Dirceu.
Reproduzo trechos (em azul):
Dirceu está inelegível até 2015 e é o principal visado no caso que começará a ser julgado este ano e conta 36 acusados [mensalão].
Prova de que ainda mexe - e muito -, Dirceu foi capa da revista VEJA
esta semana. A revista chama-lhe “O Poderoso Chefão”, título brasileiro
para a saga de “Dom Corleone, O Padrinho” e uma forma de ilustrar a sua
teia de influências no governo e nas empresas. Dirceu, agora consultor
de multinacionais, conhece bem Portugal. E Miguel Relvas. O ministro
português recorda tê-lo conhecido “por intermédio de amigos comuns”, sem
relações empresariais pelo meio. “Encontrei-o ocasionalmente”, diz.
A “Visão”
lembra de uma viagem que Dirceu fez a Portugal em 2007, onde viveu dias
de nababo. No aeroporto de Lisboa, um brasileiro o saudou: “Tem ladrão
na fila”. Segue mais um trecho da reportagem.
À espera de
Dirceu [em Portugal] estava João Serra, dono da construtora Abrantina e
sócio do escritório de advogados Lima, Serra, Fernandes e Associados. Da
sociedade fazem parte Fernando Fernandes, ex-administrador da SLN (BPN)
e atual grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), organização
maçônica a que estará ligado Relvas. Outro sócio que acompanhou Dirceu
na estada na capital portuguesa foi Antônio Lamego, ex-advogado de José
Braga Gonçalves no caso Moderna. Segundo Dirceu, Lamego era amigo do
general João de Matos, ex-chefe do Estado-Maior do Exército angolano. Na
época, os três combinaram encontrar-se na Costa do Sauípe, no Brasil,
para tratar de negócios.
Nesses dias
lisboetas, Dirceu ficou hospedado no Pestana Palace. Andou de Jaguar
preto, jantou no Vela Latina, bebeu Pera Manca e disse querer investir
em Angola. “Meu interesse é infraestrutura: rodovias, telefones,
telecomunicações.” O consultor do milionário mexicano Carlos Slim e do
magnata russo Berezevosky, falou também da sua atividade: promover
negócios de portugueses no Brasil e de brasileiros em Angola. No dia da
partida de Lisboa, Dirceu adormeceu e teve de correr para o aeroporto:
“Lamentava ter comido muito e bebido duas garrafas de vinho na noite
anterior em companhia do deputado Miguel Relvas, seu amigo há décadas”
(…).
No Brasil,
apontam a Dirceu ligações à Ongoing. Um dos links é Evanise Santos, a
namorada. Também referida no “mensalão”, é diretora de marketing do
Brasil Econômico, jornal do grupo e da Ejesa, empresa da mulher do líder
da Ongoing. Amiga da presidente Dilma, Evanise foi coordenadora de
relações públicas no Palácio do Planalto no tempo de Lula. Dirceu
escreve no jornal. A investida da Ongoing no Brasil foi atribuída às
influências de Dirceu, mas o grupo desmente. Reinaldo Azevedo, da Veja,
não cai. “No meio político, o ‘Brasil Econômico’ é chamado “aquele
jornal do Dirceu”, escreveu.
O
ex-ministro é visto como um símbolo do pior que o País tem. (…)”Nada
mudou depois do mensalão. A promiscuidade do Governo com seus aliados
persiste”, afirma Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado. Para Fernão Lara
Mesquita, jornalista e atual administrador do jornal O Estado de S. Paulo,
mistério é coisa que não existe: “Se viesse um dia a cair no Brasil,
Sherlock Holmes ficaria desempregado. Não há nada para descobrir. É tudo
’sexo explícito’”, refere. Segundo ele, Dirceu “é o especialista nos
trabalhos sujos. Tudo o que é realmente grande na roubalheira geral está
a cargo dele”. Fernão Mesquita inclui na polêmica o caso Ongoing, grupo
que considera o “cavalo de troia” da estratégia para o domínio
multimédia no universo lusófono.
Num momento
em que “o Brasil é o maior exemplo histórico de execução de um projeto
de tomada de poder pelo controle dos meios de difusão da cultura
‘burguesa’”, a Ongoing “e os banqueiros por trás dela vieram a calhar”,
aponta. A Ongoing, acionista da PT [Portugal Telecom], da Impresa e da
Zon, é liderada, no Brasil, por Agostinho Branquinho, que não quis falar
à VISÃO, invocando o seu “período de jejum” da política portuguesa. É
amigo e companheiro de partido de Relvas.
O ministro
tem em mãos a privatização da RTP e saberá do interesse da Cofina e da
Ongoing no canal. No Brasil, o grupo viu arquivada uma queixa por
alegada violação da lei relativamente às origens estrangeiras do seu
capital. “A verdade prevalece, apesar das campanhas de alguma
concorrência”, diz um porta-voz da empresa. Fernão Mesquita não ficou
convencido. “Nunca superamos, vocês e nós, o sistema feudal. Seguimos
vivendo sob um rei e seus barões. Não há poderes independentes.”
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