Foco da CPI, construtora teria rede de laranjas para lavar quase R$ 26 milhões
Por Alana Rizzo e Fábio Fabrini, no Estadão:
Foco das investigações da CPI do Cachoeira, prestes a ser instalada no Congresso, a Delta Construções é suspeita de montar uma rede de laranjas para lavar dinheiro numa triangulação com outra construtora, a Alberto e Pantoja Construções e Transporte Ltda. Análise da lista de beneficiários de pagamentos realizados pela Alberto e Pantoja indica que a Delta pode ter abastecido contas bancárias em nomes de pessoas que negam, publicamente, ter recebido as quantias registradas na perícia da Polícia Federal.
Foco das investigações da CPI do Cachoeira, prestes a ser instalada no Congresso, a Delta Construções é suspeita de montar uma rede de laranjas para lavar dinheiro numa triangulação com outra construtora, a Alberto e Pantoja Construções e Transporte Ltda. Análise da lista de beneficiários de pagamentos realizados pela Alberto e Pantoja indica que a Delta pode ter abastecido contas bancárias em nomes de pessoas que negam, publicamente, ter recebido as quantias registradas na perícia da Polícia Federal.
Destino de
R$ 26,2 milhões da Delta, a Alberto e Pantoja fez pagamentos até a um
cabeleireiro. Outras transferências tiveram como destino empresas que
não funcionam no endereço registrado. O modelo da operação e as
negativas reiteradas dos supostos beneficiários indicam, segundo o
Ministério Público, prática de lavagem de dinheiro nas operações que
movimentaram mais de R$ 25,8 milhões entre 2010 e 2011.
Entre os
principais destinatários do dinheiro do esquema está Pedro Batistoti
Júnior, tecnólogo e ex-funcionário da Delta em MS. Laudos da PF atestam
que ele teria recebido R$ 300 mil. “Se tivesse R$ 300 mil não precisaria
pedir R$ 20 para comprar almoço. Não tenho nada com isso”, disse. Há
nove anos trabalhando em um salão de beleza em Goiânia, o cabeleireiro
Jefferson Dirceu Santos aparece na lista de destinatários dos recursos.
“Que? R$ 60 mil? Nunca recebi nada desse valor e muito menos dessas
pessoas. Só podem ter usado o meu nome.”
Dona da
Serpes, empresa de pesquisas de opinião em Goiás, Ana Cardoso de
Lorenzo, que teria recebido R$ 56 mil da Pantoja, se espantou ao ser
questionada pelo Estado: “Você está doido? Nem conheço!” Um dos
responsáveis pela empresa, o marido dela, Antônio Lorenzo, disse nunca
ter ouvido falar na construtora investigada pela PF. “Os valores, para
mim, são exageradamente altos. Prestamos serviços de R$ 5 mil, R$ 7 mil.
De cifra assim eu me lembraria”, disse, prometendo fazer uma pesquisa
ampla dos negócios anteriores para desvendar o “enigma”.
As relações
da Delta com a organização criminosa comandada pelo contraventor
Carlinhos Cachoeira vieram à tona na Operação Monte Carlo. Segundo as
investigações, Cachoeira era ligado ao então diretor da Delta no
Centro-Oeste, Cláudio Abreu. Eles negociavam contratos com o poder
público. Suspeita-se que subornavam servidores públicos e que tenham
participado da arrecadação ilegal para campanhas eleitorais. Constam
ainda na relação empresas de Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Minas e
Pará. Em São Paulo, a Camarada Confecção Ltda., que teria recebido R$
303 mil, não foi encontrada no endereço em que está registrada no Brás.
“Não tem essa empresa aqui. Há mais de 20 anos funciona a Santar, de
importação de queijos e vinhos,” disse a atendente.
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