Anotem aí: está em curso a “Operação Salva-Delta”. Vejam o que fez hoje o peemedebita Pezão, governador de fato do Rio
Anotem
aí: está em curso uma “Operação Salva-Delta”. Não sei se a construtora
já contratou uma dessas empresas especializadas em “cuidar da imagem” de
seus clientes — o que inclui trabalho de assessoria de imprensa,
relações públicas e, sobretudo, plantação de notas em colunas
influentes, mas tudo indica que sim. Esse é um dos ramos que mais
prosperam no Brasil, que fazem milionários. Governos, governantes,
políticos no geral e estatais estão entre os seus bons clientes.
Aos poucos,
vamos tomando ciência, ora vejam!, do lado verdadeiramente heroico de
Fernando Cavendish, o dono da Delta. Entre outras coisas, somos
convidados a condescender com a hipótese de que, quando atua em Goiás, a
empresa mete o pé na jaca. No Rio, não! No Rio, certamente tudo é feito
segundo o mais absoluto rigor.
Nesta
quinta, MAIS UMA VEZ, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que
é do PMDB (um dos partidos que vai comandar a CPI), saiu em defesa da
construtora e de seu proprietário, Fernando Cavendish. Nota à margem:
Pezão é o governador de fato do Estado, para o bem e para o mal. Sérgio
Cabral é só uma espécie de garoto-propaganda.
Pezão deu atestado de idoneidade à empresa:
“A Delta é uma empresa muito agressiva, pratica preços menores, tem uma
estrutura menor e é uma empresa agressiva, por isso ela tem mais
contratos.” Foi além, informa o Estadão Online: “Os
contratos obedeceram a todos os editais. Na lei de emergência a gente
caracterizou muito bem. Era uma empresa que tinha muitos contratos em
volta daquela tragédia, contratos com o governo federal, então era a
empresa que tinha mais facilidade para nós acessarmos as máquinas,
pedirmos as máquinas, então não temos problema nenhum. Sobre a
quantidade, o valor que ela tem de contratos com o Estado, todas as
empresas cresceram sua participação, o Estado aumentou cinco vezes o
investimento, então não tem problema nenhum.” Também se disse amigo de todos os empreiteiros, não só de Cavendish: “Eu sou amigo de todos, fui secretário de obras. Então eu não vejo problema nenhum na CPI”, disse Pezão.
Já fez antes
Ah, essa memória que não me abandona. Não é a primeira vez que Pezão faz a defesa entusiasmada de Cavendish. No dia 7 de julho do ano passado, inaugurando uma obra do PAC no Complexo do Alemão, na presença de Dilma Rousseff, o vice-governador exaltou o empresário e atacou os órgãos de fiscalização do Estado. Escrevi um post a respeito, que os convido a reler. Serve para lembrar as circunstâncias em que o elogio foi feito. Volto para encerrar.
*
Não há político no Brasil que tenha aprendido tanto com Luiz Inácio Lula da Silva como Sérgio Cabral, governador do Rio: imita-o na falta de limites, na disposição de afrontar a ordem legal, na marquetagem pessoal, no destemor com que desafia o ridículo. Todos o viram há pouco a lançar uma espécie de código de ética para o governo do estado. Seria uma iniciativa meritória não estivesse em questão o comportamento do próprio Cabral, chegado a receber favores de bilionários com sólidos interesses na administração.
Ah, essa memória que não me abandona. Não é a primeira vez que Pezão faz a defesa entusiasmada de Cavendish. No dia 7 de julho do ano passado, inaugurando uma obra do PAC no Complexo do Alemão, na presença de Dilma Rousseff, o vice-governador exaltou o empresário e atacou os órgãos de fiscalização do Estado. Escrevi um post a respeito, que os convido a reler. Serve para lembrar as circunstâncias em que o elogio foi feito. Volto para encerrar.
*
Não há político no Brasil que tenha aprendido tanto com Luiz Inácio Lula da Silva como Sérgio Cabral, governador do Rio: imita-o na falta de limites, na disposição de afrontar a ordem legal, na marquetagem pessoal, no destemor com que desafia o ridículo. Todos o viram há pouco a lançar uma espécie de código de ética para o governo do estado. Seria uma iniciativa meritória não estivesse em questão o comportamento do próprio Cabral, chegado a receber favores de bilionários com sólidos interesses na administração.
A
promiscuidade, há muito conhecida, ganhou tinturas dramáticas com o
acidente de helicóptero que matou piloto, duas crianças, uma babá e três
mulheres: Mariana Noleto, namorada de um filho de Cabral do primeiro
casamento; Jordana Kfuri, mulher do empreiteiro Fernando Cavendish, e
Fernanda, irmã de Jordana e namorada de Cabral, que se divorciou só
ontem de sua segunda mulher. No Rio, todos sabem disso, mas preferem
falar do barquinho que vai e da tardinha que cai. Estavam reunidos na
Bahia para comemorar o aniversário de Cavendish, um homem de trajetória
empresarial, como dizer?, um tanto conturbada. A Delta toca obras de
mais R$ 1 bilhão no estado do Rio, mais de R$ 200 milhões desse total
sem concorrência.
A
proximidade do governador Sérgio Cabral com Cavendish, dono da Delta, e
favores outros recebidos de Eike Batista, somados ao drama pessoal
vivido pelo homem Sérgio Cabral lançaram o seu governo numa espécie de
crise de credibilidade. De súbito, o político que consegue dosar com
grande competência, admito, fanfarronice, dramaticidade, populismo e até
certos ecos daquela estereotipia do “malandragem” carioca se viu
sorumbático, um tanto abatido, atropelado pela sua falta de senso de
medida, como uma espécie de ressaca que sobreviesse à alegria que leva
um jovem a exagerar na dose. Foi, assim, nesse seu momento taciturno,
que o tal código veio à luz, como se não houvesse leis que
desaconselhassem Cabral a usar o jatinho de um ou a participar do
convescote de outro…
Pois bem.
Ontem, a presidente Dilma Rousseff foi ao Rio inaugurar o teleférico no
Complexo do Alemão. Em um mês, a presidente teve de demitir dois
ministros: Antonio Palocci saiu no dia 7 de junho, e Alfredo Nascimento,
no dia 6 de julho. Embora os dois estejam envolvidos em casos de
natureza distinta, pode-se dizer que uma coisa os une: a falta de
liturgia ao lidar com o interesse público. O caso de Nascimento é mais
grave para o governo porque envolve uma fatia da base de apoio no
Congresso. Muito bem.
Cabral ainda
está na sua fase de recolhimento. O grande orador do governo do Rio foi
o vice-governador, Luiz Fernando Pezão. E ele não hesitou:
“Ninguém sabe no Brasil mais do que a senhora (Dilma Rousseff) o que é fazer obra pública neste País (…) Eu queria aqui dividir esse momento (…) por nós estarmos celebrando de vencer a burocracia toda, de vencer os ministérios públicos, de vencer todas as dificuldades que existem num processo como esse”.
Em seguida, metendo os pezões pelas mãos, mostrou-se grato às empreiteiras, inclusive à Delta, a empresa de Cavendish, também citada nominalmente.
“Ninguém sabe no Brasil mais do que a senhora (Dilma Rousseff) o que é fazer obra pública neste País (…) Eu queria aqui dividir esse momento (…) por nós estarmos celebrando de vencer a burocracia toda, de vencer os ministérios públicos, de vencer todas as dificuldades que existem num processo como esse”.
Em seguida, metendo os pezões pelas mãos, mostrou-se grato às empreiteiras, inclusive à Delta, a empresa de Cavendish, também citada nominalmente.
Eu sempre me
emociono quando vejo um governante falar das enormes dificuldades
legais que os patriotas enfrentam para governar o Brasil, como se todos
eles nos fizessem um enorme favor, abrindo mão dos próprios interesses
para defender os nossos. Eu estou entre aqueles que, de vez em quando,
enroscam com uma exigência ou outra do Ministério Público, mas eu posso!
A homens públicos não cabe fazer proselitismo contra órgãos
encarregados de fiscalizar a conduta de… homens públicos! Essa era uma
das peças de resistência de Lula, que atacou de modo sistemático, nos
seus oito anos de governo, o Tribunal de Contas da União, por exemplo.
São dias
realmente muito especiais estes que vivemos. Uma presidente que acaba de
demitir a cúpula de um Ministério diante de evidências gritantes de
corrupção ouve um vice-governador ser grato às empreiteiras - inclusive
àquela que é pivô da crise que enfrenta o governador - e atacar os
“ministérios públicos”. Esta mesma presidente impôs ao Congresso um
regime de concessão de obras públicas para a Copa do Mundo que poderá,
por comparação, fazer gente como Valdemar Costa Neto parecer um
coroinha. Na prática, o texto devolve o país à selvageria pré-lei de
licitações.
Estamos sendo governados por heróis que descobriram as virtudes revolucionárias de jogar no lixo as leis.
Encerro
Pezão assegurar que tudo está certo em seu governo é do jogo. Atestar a idoneidade de um empresário que vai ser investigado pela CPI, de que seu partido é um dos comandantes, está fora das regras. Se o elogio à Delta em julho do ano passado já era impróprio, muito mais despropositado se mostra agora.
Pezão assegurar que tudo está certo em seu governo é do jogo. Atestar a idoneidade de um empresário que vai ser investigado pela CPI, de que seu partido é um dos comandantes, está fora das regras. Se o elogio à Delta em julho do ano passado já era impróprio, muito mais despropositado se mostra agora.
Quando o
vice-governador do Rio (e governante de fato) — o estado mais rico
administrado pelo PMDB — assevera que o empresário que deveria ser um
dos principais focos da CPI está acima de qualquer suspeita, algo de
muito errado está em curso. Ou a CPI não vai investigar o essencial ou
servirá apenas como instrumento de vingança contra dois ou três
desafetos da maioria influente.
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