A greve dos servidores e o recado do PT sindical a Dilma
Num
tempo em que alguns colunistas apostam na memória curta do leitor,
procuro — não sou o único; apenas dos poucos — fazer o movimento
contrário: aposto na sua memória. De resto, os textos ficam em arquivo,
não é? Todos vocês sabem o que penso sobre direito de greve para
servidores públicos. Sou contra! Já apanhei e apanho muito por isso, mas
não posso fazer nada. A Constituição o garante? Eu sei! Disse que sou
contra, não que é inconstitucional. E por que sou? Porque ela é um
absurdo lógico, ora essa! Sabem o que é um servidor público? Uma parte
de nós que trabalha para… nós! O “patrão” governo não produz um
parafuso. Só consome os impostos dos que produzem parafusos, seja com o
capital, seja com o trabalho. O único que paga o pato das greves do
funcionalismo é o povo.
Vi ontem
líderes de grevistas da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária a
infernizar a vida dos coitados dos brasileiros nos aeroportos e
estradas. Santo Deus! Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo
para enfrentar esse inferno! Pior: as coisas funcionam de tal sorte de
ponta-cabeça em Banânia que há situações absurdas como a que vimos
ontem: a greve da PF nos aeroportos consiste em TRABALHAR! Isto mesmo: a
operação-padrão consiste em fazer excepcionalmente o que deveria ser
feito todos os dias. Mas aí fica claro que faltam agentes. Adiante!
Na TV, uma
patética Miriam Belchior tartamudeava uma resposta. Disse uma coisa
fabulosa: “Algumas reivindicações são exageradas; outras são justas”.
Huuummm…. Entendo que as “justas”, então, já deveriam ter sido
atendidas, não é mesmo? Mais: há tempos havia sinais de que o movimento
grevista poderia se espalhar. O governo ficou deitado em berço
esplêndido.
Não que os
salários sejam baixos, não! Ao contrário. Há categorias paradas que têm
um rendimento que as coloca do cume da pirâmide salarial do país, lá
onde estão não mais do que 10% dos trabalhadores. Curiosamente, os
salários médios do setor privado brasileiro são muito distantes dos de
países ricos. Mas o nosso funcionalismo, especialmente o federal, não
faz vergonha na competição com economias algumas vezes maiores do que a
nossa.
A situação
se complicou para Dilma também em razão das disputas sindicais. Até
outro dia, franjas do PSTU e do PSOL, que tentam consolidar uma central
sindical alternativa, conduziam as paralisações que começavam a pipocar
no funcionalismo. O esteio da CUT, que só assistia, é o funcionalismo
público. Não teve jeito: a central foi levada a aderir. E agora chegamos
a esse ponto.
Lula
governou num tempo de vacas gordas e concedeu ao funcionalismo tudo o
que ele pediu. E sempre fez questão de deixar claro que o fazia porque,
afinal de contas, nunca antes na história destepaiz… Vocês conhecem a
cascata. A “catchiguria” entende agora que Dilma tem de ceder. A ala
sindical do PT hesitou em entrar no movimento porque tinha um receio
aqui, outro ali. Se entrou, não duvidem, é porque teve o sinal verde do
comando do partido. Também de Lula? Por que não?
Não chega a
ser, assim, uma conspiração contra Dilma, mas é um recado. Afinal, essa
gente não se conforma de não ter no comando o seu líder natural.
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