Serra candidato.
José
Serra decidiu apresentar seu nome como pré-candidato à Prefeitura de
São Paulo. Não havendo a desistência de todos os postulantes, deve
disputar as prévias, e a tanto ele já se disse disposto se necessário.
São dadas como certas as desistências de Andrea Matarazzo — em quem eu
votaria com convicção se candidato fosse — e de Bruno Covas. O primeiro
pertence ao mesmo grupo político de Serra no PSDB; Bruno, muito próximo
do governador Geraldo Alckmin, abre certamente mão de sua postulação,
atendendo ao comando de Alckmin, que se esforçou por essa solução. José
Aníbal e Ricardo Trípoli não deram sinais de que podem seguir o mesmo
caminho. Com ou sem prévias, não há no PSDB, agora, quem conte com a
possibilidade de que o nome possa ser outro: é Serra. Acho isso bom ou
ruim? Depende. Para a cidade, caso ele vença, é bom. Para o país… Vamos
ver.
Não é, já
disse, o que eu faria no lugar dele, mesmo reconhecendo que a solução
pode ser muito boa para a cidade em caso de vitória. Por que digo isso?
Não sou político. Não me meto, à diferença do que acusam os petralhas,
com partidos. Escrevo como um cidadão brasileiro cuja profissão permite
um posto de observação privilegiado. Serra segue sendo a cabeça mais
lúcida da oposição brasileira e aquele que tem uma visão mais sólida do
conjunto dos problemas — e das respostas possíveis — do Brasil. É
evidente que a sua entrada na disputa pela Prefeitura torna mais
distante a possibilidade de que venha a se candidatar de novo à
Presidência. As circunstâncias de agora impõem que, se eleito, exerça os
quatro anos de mandato. Ele deve saber disso. Também deve ter claro que
os adversários insistirão na tecla de que pode não concluir o mandato
para disputar a Presidência. Curiosamente, até aqueles que o combatem
enxergam nele mais um presidenciável do que um “prefeiturável”.
As
circunstâncias locais e nacionais convergiram, reconheço, para a sua
candidatura. Os exércitos estão se armando para tomar São Paulo. O nome
do ex-governador surgiu como aquele capaz de manter unida a aliança que
venceu as disputas mais recentes na cidade e no Estado. Já se escreveu à
farta sobre o fator Gilberto Kassab: Serra era o único nome que poderia
demovê-lo de lançar um candidato próprio ou de compor com o petismo.
Isso só nos informa que Lula e sua turma estão dispostos a qualquer
aliança — mesmo com aqueles a quem tanto combateram — para derrotar o
PSDB. É fato inquestionável: amplos setores do partido, também o
governador Geraldo Alckmin, quiseram Serra candidato.
Compreendo
tudo isso; voto, sim, nele entendendo que é o melhor para São Paulo e
para as forças que se opõem ao petismo — e eu acho vital para a
democracia brasileira que a oposição se fortaleça —, mas temo pelos
rumos da oposição na esfera nacional. A reação do PSDB no caso das
privatizações dos aeroportos, por exemplo, é, para dizer pouco,
preocupante. Por quê? Contentou-se em acusar as incoerências do PT, que
teria, finalmente, se rendido ao óbvio e aderido a um modelo que antes
criticava. Declarou-se, então, a vitória intelectual do PSDB. Faz
sentido? Faz, sim! Apontar o discurso farisaico do petismo era uma
obrigação? Sem dúvida! Mas só isso?
Serra foi o
único a tratar a questão na sua devida dimensão. A privatização dos
aeroportos não é a primeira efetuada pelo petismo, não! Há outras, como a
das estradas federais, que se mostrou um desastre. No caso dos
aeroportos, o agora pré-candidato à Prefeitura pelo PSDB lembrou em artigo:
trata-se de uma privatização malfeita, potencialmente danosa para o
setor, para o país e, por conseqüência, para os usuários — todos nós.
Que o PSDB apontasse as incoerências do PT, muito bem! Que tenha
limitado a sua crítica a essa questão, sem atentar para as barbeiragens
do processo, aí não dá! É preciso dizer um “sim” às privatizações — mas
às privatizações bem-feitas. Falta, como se nota, rumo.
É evidente, e
os colunistas já apontaram isso à farta, que o caminho fica mais livre
para o senador Aécio Neves (MG) se firmar como o provável candidato do
PSDB à sucessão de Dilma. Pode ser que venha ainda a demonstrar
liderança, descortino, habilidade para reunir uma massa crítica que o
torne uma alternativa de poder. Mas não há, até agora, dentro ou fora do
PSDB, no governo ou na oposição, quem vislumbre isso, embora haja uma
grande vontade de apostar nessa possibilidade. Como possível candidato
do PSDB à Presidência, Aécio assume a condição de quem dá o tom. E se
ouve muito pouco a sua voz nos embates nacionais. Não que faltem
motivos. Essa voz se alevantará a partir de agora? Vamos ver.
Sim, eu
preferia um Serra envolvido com os temas nacionais, e só nesse
particular a sua candidatura de agora me desagrada. Se eleito, há de
ficar ao menos quatro anos na Prefeitura de São Paulo, o que seria um
bem enorme para a cidade se considerarmos a sua atuação como prefeito e
como governador. A população aprovou o seu trabalho, e ele venceu Dilma
em 2010 no estado e na capital.
Não será uma
disputa fácil. Justamente porque vêem em Serra uma rara capacidade de
trabalho, os petralhas e os “JEGs” — Jornalistas da Esgotosfera
Governista (essa me chegou num comentário) — vão aloprar. Não por acaso,
alguns de seus notórios detratores exibem, em suas respectivas páginas,
publicidade não menos notável de estatais e do governo federal.
Arma-se, com dinheiro público, a mão da tropa de choque contra
adversários. É prática similar ao que se vê hoje na Argentina, na
Venezuela, na Bolívia ou no Equador.
Que Serra
seja eleito! Para o bem de São Paulo. E resta-nos também torcer para que
a oposição encontre um rumo e ganhe uma voz capaz de se posicionar com
firmeza sobre temas nacionais.
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