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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


O WikiLeaks, os franceses, a “aposentadoria de Lula e o JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista)

Já deveria ter comentado texto publicado na VEJA Online na segunda-feira sobre um dos vazamentos do WikiLeaks. Olhem aqui: eu não costumo mudar de opinião sobre isso ou aquilo a depender de quem esteja sendo prejudicado ou beneficiado. Não tenho simpatia pelo WikiLeaks, não! Já escrevi a respeito algumas vezes. Não aprovo os métodos a que o site e sua turma recorrem. Leiam o releiam o que foi publicado na segunda. Volto em seguida.
WikiLeaks: compra de aviões seria ‘aposentadoria’ de Lula
Um dos milhões de e-mails divulgados nesta segunda-feira pelo site WikiLeaks da empresa de inteligência e análise estratégica Stratfor diz respeito à compra de equipamentos militares pelo Brasil durante o governo Lula. Um funcionário do governo americano alocado no Brasil conversa sobre o negócio com um Stratfor chamado Marko Papic.
Um dos milhões de e-mails da empresa de inteligência e análise estratégica Stratfor que o site WikiLeaks começou a divulgar nesta segunda-feira diz respeito a negócios para a aquisição de equipamento militar pelo Brasil durante o governo Lula.
Em outubro de 2010, um funcionário do governo americano alocado no Brasil conversa sobre o negócio com um consultor da Stratfor chamado Marko Papic. Embora afirme não ter provas, ele é devastador no seu parecer: “A compra de submarinos é tão sem sentido que só pode ter a ver com propina. Lula provavelmente está cuidando do seu plano de aposentadoria. E veja só: a compra acontece ‘curiosamente’ no fim de seu mandato. O mesmo vale para os jatos. Nosso Departamento do Tesouro é vingativo quando se depara com subornos. Não podemos fazer nenhum negócio real num lugar corrupto como o Brasil. Os franceses não têm esses problemas”.
O servidor americano finaliza: “Desculpe-me não ter mais informações no que diz respeito à estratégia brasileira. A nossa avaliação é de que isso é puramente suborno. A única diferença é que agora o Brasil tem dinheiro, muito dinheiro, e pode de fato adquirir os equipamentos. Quero dizer, seria mera coincidência eles comprarem tanto equipamento militar da França? Os franceses sabem como realizar subornos”.
Estratégia
Ambos os negócios representam a disposição do governo brasileiro de modernizar suas Forças Armadas. A decisão envolve diplomacia e questões de estratégia militar. Em dezembro de 2008, por exemplo, o Brasil e a França firmaram acordo para construção de quatro submarinos da classe Scorpène, uma base naval e um estaleiro dedicado à produção das embarcações. O tratado de 6,7 bilhões de reais também previa a transferência de tecnologia para a produção do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear. Em julho do ano passado, a presidente Dilma Rousseff participou da cerimônia em Itaguaí (RJ) que marcou o início da construção dos submarinos. O primeiro modelo deve ficar pronto em 2016 e ser entregue em 2017. Os demais serão disponibilizados entre intervalos de um ano e seis meses. O estaleiro e a base naval devem ser inaugurados em 2014 e o submarino nuclear, ficar pronto apenas em 2023.
O processo de aquisição de caças para a Força Aérea Brasileira, avaliado entre 4 bilhões e 6,5 bilhões de dólares, ainda está aberto. O assunto voltou a ganhar fôlego em 2012 depois de anos de avanço lento e adiamentos. Na “batalha dos caças”, os fabricantes têm oferecido ao Palácio do Planalto diferentes combinações de preço e políticas de transferência de tecnologia. Há cerca de dois anos, a Saab, fabricante do Gripen, foi a companhia que obteve a melhor avaliação da Força Aérea Brasileira (FAB).
Só que a opinião do órgão não se mostrou determinante. A venda quase foi fechada em 2009 para a francesa Dassault, que produz o Rafale, porque o ex-presidente Lula vivia uma lua de mel diplomática com o presidente Nicolas Sarkozy. No final de 2010, depois da data em que ocorreu a troca de e-mails entre o consultor da Stratfor e um funcionário do governo americano, as conversas entre ambos azedaram - e os franceses foram parar no ‘fim da fila’.
A Boeing, que participa da licitação com seus F-18 Super Hornet, intensificou seu lobby desde então. Neste ano, outra reviravolta. Em 31 de janeiro, a notícia da negociação para venda de 126 Rafales à Índia, por 12 bilhões de dólares, desviou o foco novamente para Paris. Desde então, fontes do Palácio do Eliseu e do Planalto dão como certo o fechamento do negócio com os franceses. Depois de dezesseis anos de adiamento, a presidente Dilma Rousseff parece estar disposta a fechar o negócio neste primeiro semestre.
Vazamento
A mensagem faz parte de Os Arquivos de Inteligência Global, com mais de 5 milhões de e-mails da companhia Stratfor, no Texas, EUA, divulgados nesta segunda-feira pelo WikiLeaks. Os e-mails datam de julho de 2004 a dezembro de 2011. Entre os clientes da Stratfor estão o Departamento de Segurança Pública dos Estados Unidos, a Marinha americana e grandes empresas.
Voltei
É evidente que o que se tem é quase nada para dar curso à desconfiança de que Lula recebeu propina dos franceses, como afirma o tal funcionário. Por mais que as negociações com os franceses tenham trilhado caminhos um tanto heterodoxos — eu mesmo escrevi bastante a respeito —, é o suficiente para dar início à campanha “Lula recebeu bola dos franceses”? Acho que não.
Mas agora peço que vocês ponderem: imaginem o que o JEG — Jornalismo da Esgotosfera Governista — não estaria fazendo, E COM PATROCÍNIO DE ESTATAIS, se os alvos da desconfiança fossem FHC, Serra ou outro tucano qualquer… Ora, fariam o que se pode ver todos os dias em suas páginas — os que têm estômago para aquilo ou são tolos o bastante para acreditar em penas de aluguel.
Chamo atenção, insisto, para este aspecto do problema: quem patrocina a campanha que esses caras fazem contra lideranças da oposição, autoridades do Judiciário e jornalistas e veículos de comunicação independentes são as estatais. Usa-se descaradamente o Estado para financiar uma guerra suja de natureza política.
Eles, que gostam tanto do WikiLeaks, silenciaram desta vez. Não só eles, é bom destacar. A própria grande imprensa, que se registre, teria dado muito mais visibilidade à acusação se o alvo não fosse Lula.
Por Reinaldo Azevedo

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