Servidores – A herança maldita da era Lula-Dilma explode no colo da governanta. E as vacas, agora, não são tão gordas. Ou: Greve ou movimento cartorial?
Os
sindicalistas dizem que há 350 mil servidores federais em greve. Talvez
seja menos. De todo modo, são milhares. A negociação com o governo tem
um aspecto um tanto estranho. Parece não se tratar de uma relação entre
partes distintas. Ao contrário até: os líderes se referem a Dilma como
alguém da turma que os estivesse traindo ou falando, de súbito, uma
linguagem estranha: a das contas públicas. Sabem o que é isso? Boca
torta pelo uso do cachimbo. No governo Lula, era pedir e levar. Em
alguns casos, levavam até sem pedir. Em nove anos de petismo, a despesa
média por servidor, informou ontem o Globo Online,
cresceu 120%. A inflação do período foi de 52%. Brasília já tinha a
renda per capita mais alta do país antes disso. Depois então… Mesmo
assim, permanece o mito de que os servidores públicos são mal pagos.
Trata-se, obviamente, de uma piada.
Enquanto
as vacas estavam gordas, luzidias, Lula ignorou o impacto sobre as
contas públicas e abriu as burras do dinheiro. Frequentemente, os gastos
cresceram mais do que a economia e do que a arrecadação. Mas chegou o
inverno, o pasto está seco, e não há mais a cornucópia de dinheiro.
Ocorre que a clientela está mal acostumada e pretende manter o ritmo dos
ganhos reais — como vocês viram acima, aquilo é ganho real.
Então
aparece a pobre ministra Miriam Belchior — digo “pobre” porque é aquela
obrigada a falar de dinheiro, do desembolso mesmo — para afirmar que não
há grana para alimentar as reivindicações. “Desde 2003, houve aumentos
reais em todas as categorias. Estamos refazendo todas as nossas contas
diante do agravamento da crise internacional e esperamos que até o
início de agosto tenhamos o cenário das propostas que possam ser
atendidas. A soma das demandas é de R$ 92 bilhões, ou 50% da folha
atual, 2% do PIB e o dobro do PAC deste ano. Isso indica, com clareza,
que é um número que não é factível de o governo atender”, quase implora
Miriam. Ninguém quer saber. “Tivemos um conjunto de reestruturações de
2008 a 2010. Só no Poder Executivo civil, o impacto foi de R$ 35,2
bilhões”, lembra o secretário de Relações de Trabalho no Serviço
Público, Sérgio Eduardo Arbulu Mendonça. Dão de ombros pra ele.
A greve
não esta sob o comando da CUT, mas de setores à esquerda. A central do
petismo era muito ativa no governo FHC. Depois, apelegou-se, mas também
não pode ser hostil ao movimento. Então fica parada, pedindo negociação.
A essa altura, é evidente que o ministro de Trabalho já deveria ter
comparecido para o debate e o embate. Quem é mesmo? Ah, sim, trata-se do
blogueiro Brizola Neto, que está mais por fora do que dedão de
franciscano. A pasta é só um cartório do PDT. Não serve pra nada.
Gilberto
Carvalho, o sedizente responsável pelo diálogo com “os movimentos
sociais”, está sumido. Ele sempre é muito buliçoso quando se trata de
acirrar os ânimos contra governos de oposição. No caso do Pinheirinho ou
da ação na Cracolândia, por exemplo, sempre tinha algo a dizer. Um
assessor seu chegou a participar de uma incrível patuscada, dizendo-se
atingido por uma bala de borracha. Não fez exame de corpo de delito, não
exibiu o ferimento, não comprovou a “denúncia”. Mas se deixava
fotografar com uma bala não disparada na mão. Cadê Carvalho? Pois é… A
coisa agora envolve dinheiro, o caixa. Não se trata mais apenas de jogar
as hostes do partido contra governos tucanos… Nesse caso, ele não tem o
que dizer.
O governo
apresentou, por exemplo, um plano de reestruturação da carreira e de
reajuste para os professores. Em três anos, representa um desembolso de
quase R$ 4 bilhões. Para atender o que pedem, a conta vai para mais de
R$ 9 bilhões. Entre outras coisas, recusam a promoção por mérito.
Aprenderam isso com os sindicatos petistas, com Lula. “Meritocracia é
coisa de neoliberal”, eles rezam. E estão lá: ou é reajuste em linha,
pra todo mundo, independentemente das diferenças, ou greve.
Pois é… O
PT, sempre tão maquiavélico, é agora refém da raposinha de O Pequeno
Príncipe: tornou-se responsável por aqueles que cativou. E eles tomaram
balda. Aprenderam a levar tudo. Aqui e ali, o governo ameaça com o
desconto dos dias parados, promessa que nunca cumpre. Os grevistas dão
de ombro porque sabem que, lá no Planalto, ninguém tem peito — quero
dizer, pulso — para isso.
Quem paga o pato? Ora, quem depende dos serviços feitos pelos servidores: a população.
Enquanto
fazer ou não fazer greve for irrelevante; enquanto não trabalhar for tão
vantajoso quanto trabalhar; enquanto a paralisação não implicar — o que
é, em si, uma imoralidade — nenhum sacrifício nem dos grevistas nem do
governo; enquanto a população for a única prejudicada pelo movimento, o
Planalto pode ir cozinhando o galo, e os grevistas podem radicalizar à
vontade nas reivindicações.
Encerro
lembrando que não pode haver nada mais indecoroso num movimento sindical
do que a reivindicação para que não se descontem os dias parados. Isso é
quase uma jabuticaba; não existe em nenhum país do mundo — nem no
grevismo do ABC, que resultou no PT, era assim, como Lula sabe muito
bem. Quando uma categoria para de trabalhar, ela está ciente do prejuízo
que impõe ao outro lado, mas sabe que corre riscos também. Sem esses
riscos, então não se trata de greve, mas de negociação cartorial.
As
perspectivas mais realistas dizem que a economia não cresce nem 2% neste
ano. Para o ano que vem, fala-se aí em algo em torno de 3,5%… Vai
saber. Uma coisa é certa, se o governo ceder ao que pedem os grevistas,
não vai sobrar um tostão para investir — na verdade, vai faltar
dinheiro. E aí a coisa vai mesmo para o buraco. É
a herança maldita de Lula, que Dilma ajudou a construir porque, afinal,
nunca se cansou de dizer, era a “gerentona” do governo, certo? Pois é…
Quando sobra pão, ninguém precisa gritar porque leva a prebenda, tendo
ou não razão. Quando a demanda é maior do que a oferta, aí é preciso
saber dizer “não”.
E agora, Dilma?
Nenhum comentário:
Postar um comentário