O presidente da CPI, Vital do Rego, e a grande inverdade. Ou: Fala de senador demonstra que CPI assa a grande pizza do governismo e que esquema de corrupção não será investigado
O
presidente da CPI, Vital do Rego (PB), que vinha se comportando com
discrição até agora, mudou de postura para anunciar uma inverdade
escandalosa. As coisas começam a assumir um péssimo rumo. Leiam o que
informa Ricardo Brito, no Estadão Online. Volto depois.
Presidente da CPI diz que ‘quadrilha’ está em Goiás
O presidente
da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), afirmou que a
disputa entre tucanos e petistas não vai atrapalhar os trabalhos da
comissão parlamentar. “Não pode e não vai inviabilizar os trabalhos”,
disse, ao fazer um balanço dos trabalhos da CPI. Vital não quis opinar
se a comissão deveria reconvocar o governador de Goiás, Marconi Perillo
(PSDB), para explicar as novas acusações de que teria firmado um
compromisso com a Delta Construções, intermediado pelo contraventor
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, quando negociou a venda de
uma mansão, em Goiânia.
O presidente
da CPI disse que o “núcleo da quadrilha” está em Goiás. “Não sou eu que
estou dizendo, qualquer criancinha sabe disso, ela nasceu lá”, afirmou.
Mas ele ressalvou que esse fato não é “fator determinante” para Perillo
voltar ou não à CPI. “Não tenho convicção disso, até porque espero o
que a CPI vai analisar”. Requerimento do senador Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP) pediu a reconvocação de Perillo. O PT, ao contrário, defende o
impeachment do governador, sem nova passagem pela CPI. Questionado se é
recomendável que o vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira
(PT-SP), defenda o indiciamento de Perillo, Vital respondeu: “O Paulo me
afirmou que fez um comentário como membro da CPI, não como
vice-presidente”.
Vital também
se recusou a comentar o pedido de convocação de Wilder Morais (DEM-GO),
o suplente do senador cassado Demóstenes Torres (ex-DEM, sem
partido-GO). Grampos feitos pela Polícia Federal revelaram que Wilder
deveria a suplência de Demóstenes a Cachoeira. “A presidência não versa
sobre conceitos isolados de requerimentos, a presidência se pronuncia
depois de requerimentos aprovados”, afirmou. O senador afirmou ainda que
o assassinato nessa terça-feira, 17, em um cemitério em Brasília de
Wilton Tapajós Macedo, agente da Polícia Federal que participou das
investigações da Operação Monte Carlo, não vai intimidar os trabalhos da
comissão parlamentar. “Não há nenhuma ameaça, não há nenhuma
intimidação”.
(…)
Voltei(…)
Com a devida vênia, caro senador, só as criancinhas meio bobas acreditam nisso. A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) já fez a devida distinção na própria comissão e lançou uma proposta muito objetiva: a criação de duas subcomissões. Uma cuidaria do esquema de contravenção de Cachoeira; outra cuidaria do caso Delta!
Esquema
centrado em Goiás? É piada! A Delta é nacional! Cachoeira, é evidente, é
apenas o braço regional da empresa de Fernando Cavendish. Quando a
construtora quis encontrar alguém influente na região Centro-Oeste,
recorreu ao esquema do contraventor. Ora, faça-se a pergunta óbvia: o
que ele tem a ver, por exemplo, com os contratos celebrados entre a
Delta o governo do Rio, parte significativa sem licitação? Uma parcela
das obras do Dnit, por exemplo, estava sob a influência do esquema, mas a
maior parte não passou nem perto do esquema Cachoeira.
O
contraventor tinha, como já está demonstrado, o seu próprio laranjal.
Mas este independia do laranjal da Delta, que atendia a outros
propósitos. Vejamos: o maior cliente da construtora é o governo federal;
depois dele, o do Rio; em seguida, o de Pernambuco — estado de origem
da empresa. E Vital do Rego vem dizer que o centro é Goiás?
O estado
pode ser, sim, o centro do esquema de contravenção liderado por
Cachoeira. Mas isso é pinto (o que não quer dizer que não mereça
punição) perto do que representa a Delta. Ele era apenas o operador
local da rede nacional. Quem é o Cachoeira do Rio? Quem é o Cachoeira de
Pernambuco? Quantos são os cachoeiras espalhados Brasil afora? O que
Vital do Rego está dizendo é que a CPI pretende encerrar os seus
trabalhos sem investigar, por exemplo, desembolsos feitos pelo governo
federal à construtora em ano eleitoral e a atuação da empresa no
financiamento de campanhas. Vale dizer: não se vai investigar o
essencial.
A CPI pode
se estender até novembro. A que veio agora a intervenção de Vital do
Rego? Até havia pouco, as chicanas contra a oposição e contra a
investigação eram quase exclusividade do petismo. Parece que o PMDB
entrou numa fase de demonstrar sua fidelidade à aliança.
Reparem que o
petista Raul Filho (PT), prefeito de Palmas, Tocantins, sumiu do
noticiário. Se alguém fez promessas a Cachoeira em troca de
financiamento ilegal de campanha — e sem qualquer subterfúgio ou
linguagem figurada —, esse alguém é o prefeito petista. E a Delta foi,
efetivamente contratada sem licitação. Aliás, até agora, estrelando
filmes mesmo, em negociação com o contraventor, só há petistas: além de
Filho, o deputado Rubens Otoni (GO).
Então
ficamos assim: o presidente da CPI dá pistas de que a Delta não será
investigada, e os petistas da comissão deixam claro que sua missão é
perseguir tucanos e proteger petistas e governistas. Confirmado: CPI
virou tribunal de exceção!
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