As drogas e os ditos “progressistas”
A
internação involuntária de viciados em crack expõe o fundo falso da
tese daqueles que defendem a legalização — ou descriminação; nesse caso,
tanto faz — das drogas. A questão é simples e objetiva: se se considera
que o que chamam “liberdade de escolha” é o melhor caminho no caso da
maconha, por exemplo, por que seria diferente com o crack? Os que vão às
ruas marchar em defesa da erva poderiam tentar responder à questão. Mas
não vão porque ficam com preguiça, acho…
Os
defensores da maconha sempre foram muito hábeis no esforço de converter o
seu vício ou o seu gosto num, sei lá como chamar, “direito fundamental”
ou “exercício da liberdade individual”.
Ora,
ninguém lhes tira o direito de consumir substâncias que podem lhes
trazer danos. Continuam livres para isso — e há centenas de substâncias
legais potencialmente danosas. No caso das drogas ilícitas, a sociedade
escolheu um caminho que considera, atenção para isto!, mais seguro para
ela, não para os consumidores individuais disso ou daquilo. “Mas a
repressão também gera dificuldades…” Eu sei. Não há escolha que se possa
fazer sem efeitos colaterais indesejados — nesse assunto ou em qualquer
outro. O mundo sem óbices e dificuldades, leitor, é aquele dos seus
devaneios; é um exercício solitário e incompartilhável.
O crack,
porque se transformou na droga dos miseráveis, foi, na prática,
legalizado. Seu consumo, na maioria das cidades brasileiras, se dá a céu
aberto e sem repressão. Chegamos ao que se vê por aí. E assim é mesmo
havendo uma forte interdição que é mais de caráter social e moral do que
propriamente policial. Dá para imaginar como seria uma sociedade em que
o consumo fosse livre. Aí um poeta ou outro do absurdo imagina: “É
preciso descriminar o consumo, mas reprimir o tráfico…”. Entendo: querem
liberar a demanda, mas restringir a oferta. No máximo, vão provocar
inflação no setor…
Os ditos
progressistas submeteram essa questão a uma inversão moral, coisa em que
são especialistas. O drogado se tornou um “agente de direitos” como
drogado. Ora, é claro que o assistem as garantias de que gozam os demais
homens, mas não como membro de uma categoria apartada da sociedade. Um
programa como a internação involuntária ou compulsória já implica um
custo adicional para os demais indivíduos. Será sustentado com recursos
púbicos, oriundos dos impostos dos que trabalham e produzem. A sociedade
lhe dá, pois, suplementarmente a chance de se tratar, mas não está
obrigada a ceder a reivindicações que potencialmente a destroem. “Mas
destroem mesmo?” A resposta está nas áreas das cidades brasileiras que
foram privatizadas pelo crack.
Código Penal
A questão das drogas, desafortunadamente, se transformou num dos modos, deixem-me ver como escrever, da “luta contra o estado burguês” e “contra o império americano” (que estaria na origem da atual política de combate ao tráfico), embora seja uma causa levada adiante, no mais das vezes, por beneficiários do “estado burguês”… Ou alguém já viu um movimento de mães da periferia de São Paulo ou das favelas do Rio (em carioquês, diz-se “comunidade”…) em defesa da descriminação das drogas? Ora… Passeatas com esse conteúdo se fazem na Avenida Paulista e em Copacabana, não no Capão Redondo ou em Duque de Caxias…
A questão das drogas, desafortunadamente, se transformou num dos modos, deixem-me ver como escrever, da “luta contra o estado burguês” e “contra o império americano” (que estaria na origem da atual política de combate ao tráfico), embora seja uma causa levada adiante, no mais das vezes, por beneficiários do “estado burguês”… Ou alguém já viu um movimento de mães da periferia de São Paulo ou das favelas do Rio (em carioquês, diz-se “comunidade”…) em defesa da descriminação das drogas? Ora… Passeatas com esse conteúdo se fazem na Avenida Paulista e em Copacabana, não no Capão Redondo ou em Duque de Caxias…
Há, assim,
uma mistura de exacerbação do discurso da liberdade individual com um
eco, santo Deus!, da luta de classes e do combate ao imperialismo.
Trata-se de uma salada aloprada de conceitos. Já sou velho. Tenho 51
anos. Sou do tempo em que as esquerdas combatiam as drogas porque
entorpeciam a consciência… Ainda que parecesse improvável ou impossível,
as esquerdas pioraram muito…
Na era, no
entanto, em que cada minoria acredita que pode impor aos outros as suas
necessidades, reivindicando direitos especiais e reparações, também as
drogas viraram objeto de militância. E esses militantes conseguiram
vender a sua tese vagabunda. Aquela comissão de juristas que elaborou a
estúpida proposta de reforma do Código Penal que está no Senado não fez
por menos: além de propor a descriminação do consumo DE QUALQUER
SUBSTÂNCIA, resolveu estabelecer um limite a partir do qual estaria
caracterizado o tráfico. Quem portasse o suficiente para cinco dias de
uso próprio não seria importunado pela polícia. Ora, para tanto, seria
preciso definir a unidade, certo?, quanto se considera normal consumir
em um dia… Quanto? Ah, não sei! Aí, creio, seria preciso criar uma nova
estatal: uma Drogobras ou uma Anardroga (Agência Nacional de Regulação
das Drogas). Depois de se indicarem uns “companheiros” para cargos de
confiança, chegar-se-ia a esse quantum…
Bem, tudo muito compreensível. É a mesma turma (seus absurdos estão aqui) que decidiu que abandonar um cachorro é pior do que abandonar uma criança…
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