Oito governadores decidem engrossar movimento que pretende intimidar oposição, Ministério Público e imprensa
Gestos
de solidariedade política sempre são, em igual medida, gestos de
repúdio. Ontem, oito governadores de estado deixaram seus respectivos
afazeres para se encontrar com Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente
da República, no instituto que leva seu nome, em São Paulo. Cid Gomes
(PSB), do Ceará, resumiu a intenção do gesto segundo noticia o Estadão: “Viemos dizer para ele que estamos indignados com essa coisa [denúncia de Marcos Valério], que isso não é respeitoso para com a figura do ex-presidente e com a memória do Brasil”.
Volto,
então, à minha questão: sabemos que o alvo do desagravo é Lula, mas quem
é o agravado? Marcos Valério? Oito governadores e um vice-governador
recorreram ao dinheiro do contribuinte para defender Lula das acusações
de um homem que o presidente do PT, Rui Falcão, diz ser um
desqualificado? Acho que não! Parece que os agravados são outros. Já
chego lá. Em tempo: estiveram no Instituto Lula, além de Cid, os
governadores Tião Viana (PT-AC), Camilo Capiberibe (PSB-AP), Jaques
Wagner (PT-BA), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Silval Barbosa (PMDB-MT),
Agnelo Queiroz (PT-DF) e Teotônio Vilela Filho (PSDB- AL). Luiz Fernando
Pezão, vice de Cabral, também estava lá. Segundo o Estadão, o tucano
foi um dos porta-vozes do grupo. Eduardo Campos (PSB), governador de
Pernambuco e tido como presidenciável, preferiu ser incluído fora dessa.
Vamos aos fatos
Suponho que os governadores não tenham ido a Lula para mandar um recado a Marcos Valério: “Olhe aqui, nós não confiamos em você; pare com essa história. Onde já se viu fazer isso com um homem da dimensão de Lula?” Parece que a situação de Valério o coloca ao abrigo desse tipo de apelo patriótico. Para quem, então, falavam os governadores?
Suponho que os governadores não tenham ido a Lula para mandar um recado a Marcos Valério: “Olhe aqui, nós não confiamos em você; pare com essa história. Onde já se viu fazer isso com um homem da dimensão de Lula?” Parece que a situação de Valério o coloca ao abrigo desse tipo de apelo patriótico. Para quem, então, falavam os governadores?
Outro
noticiário que colhe Lula em cheio é aquilo que a Polícia Federal — não a
imprensa ou a oposição — chama de “quadrilha” na Operação Porto Seguro.
O grupo foi flagrado operando no coração do poder. O seu “braço
político” (de novo, expressão da PF) seria Rosemary Nóvoa Noronha,
“amiga íntima”, segundo o eufemismo em curso, de Lula. Foi ele quem
instalou aquela senhora no escritório de representação da Presidência em
São Paulo. Utilizando-se das facilidades do cargo, diz a polícia, ela
atuava em favor da “quadrilha”.
Suponho
que o alvo do agravo dos governadores, nesse caso, não fosse a Polícia
Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, de que é titular José
Eduardo Cardozo. Acho que não ocorreria a esses senhores pedir que a PF
fosse livre para fazer o seu trabalho desde que os casos investigados
não importunem Lula porque, como disse José Sarney (PMDB-AP), presidente
do Senado, ninguém tem autoridade para acusa-lo, devolvendo
consideração feita pelo petista em 2009, segundo quem “Sarney não é um
homem comum”. Coisa de fidalgos, vocês sabem.
Volto à questão
Assim, volto à questão. O alvo do desagravo era Lula, mas quem, afinal, estava sendo agravado? A quem se dirigiam os governadores? A resposta é óbvia e inescapável: Procuradoria-Geral da República, imprensa e, evidentemente, os setores mais aguerridos da oposição.
Assim, volto à questão. O alvo do desagravo era Lula, mas quem, afinal, estava sendo agravado? A quem se dirigiam os governadores? A resposta é óbvia e inescapável: Procuradoria-Geral da República, imprensa e, evidentemente, os setores mais aguerridos da oposição.
Comecemos
por esta última. O objetivo — e lá estava Teotônio Vilela Filho — é
silenciar qualquer manifestação crítica, fazendo ver aos setores
moderados (e como há moderados na oposição, não!?) que será um mau
negócio se engajar em qualquer pedido de investigação no Congresso. Aí o
leitor pode se perguntar: mas o que a oposição fez efetivamente para
que estes dois problemas passassem a assombrar Lula — Rosegate e Marcos
Valério? A resposta óbvia é esta: nada. E, como contrapartida ao nada,
os petistas, recém-saídos de uma CPI patética, que preferiu fugir
daquilo que começou a apurar, anunciam que pretendem fazer outra, a “da
Privataria do governo FHC”. Para apurar o quê? Eles ainda não sabem.
Eles insistem em fazer uma CPI da maioria para investigar a minoria… Nos
primeiros tempos dos fascismos europeus, isso era muito comum. Depois
se tornou desnecessário porque não havia mais “minorias”…
O alvo do
agravo também é a Procuradoria-Geral da República, aquela que os
petistas, associados a este notável progressista chamado Fernando
Collor, tentaram atingir com a CPI do Cachoeira. Seja no caso Valério,
seja no Rosegate, o que se pretende demonstrar é que a nação (?) não
aceitará qualquer investigação que atinja Lula. Outra pessoa qualquer,
num caso e noutro, poderia estar sujeita à investigação. Mas ele? Não!
Há no país as leis e os procedimentos que valem para todos, e há aquelas
especiais, que não estão escritos, que devem atender a um só homem. No
ano que vem, Gilberto Carvalho já anunciou: “O bicho vai pegar”.
O terceiro
alvo, é evidente, é a imprensa independente. Insistirei na pergunta
retórica que já fiz aqui algumas vezes: na opinião do PT — e a indagação
se estende agora aos governadores —, o que deveriam ter feito os
jornalistas? Omitido a informação de que Valério acusara Lula em
depoimento ao Ministério Público? Não publicar mais notícias sobre o
Rosegate?
Todos
sabemos, e o Brasil sabe, quem é Marcos Valério, aquele que recebeu a
maior pena no processo do mensalão: mais de 40 anos! Mas foi condenado
no mesmo processo e pelo mesmo tribunal que condenou José Dirceu,
aclamado como herói no petismo. Os ataques que ele disfere em seu site
contra a oposição, o STF, a PGR e a própria imprensa são… notícia na
imprensa!
Valério,
convenha-se, só interessa aos jornalistas quando vem a público com
alguma informação bombástica — e poderia ser diferente? Dirceu não!
Outro dia, um grande portal transformou em notícia o que ele pensava
sobre a reforma política . o financiamento público de campanha… Se
Dirceu tomar um Chicabon, já gera um lead.
Assim, a
manifestação dos oito governadores e de um vice-governador tinham como
alvos os oposicionistas mais assertivos, o Ministério Público e a
imprensa. Até parece que foram esses setores a colocar Lula em
dificuldades. E, como resta escandalosamente claro, eles não tem nada
com isso.
Estranheza
Manifesto, adicionalmente, a minha estranheza com esse furor rancoroso do petismo. Ora, e já escrevi isso aqui, o partido deveria estar em festa, não é? Pesquisa CNI-Ibope indicou a alta popularidade de Dilma (sei que os lulistas odiaram essa notícia em particular, mas, vá lá, é tudo PT). A pesquisa eleitoral do Datafolha — aquela que trouxe até Joaquim Barbosa como candidato, o que é uma de uma bobagem realmente exemplar! — aponta que Dilma ou Lula poderiam vencer a disputa no primeiro turno…
Manifesto, adicionalmente, a minha estranheza com esse furor rancoroso do petismo. Ora, e já escrevi isso aqui, o partido deveria estar em festa, não é? Pesquisa CNI-Ibope indicou a alta popularidade de Dilma (sei que os lulistas odiaram essa notícia em particular, mas, vá lá, é tudo PT). A pesquisa eleitoral do Datafolha — aquela que trouxe até Joaquim Barbosa como candidato, o que é uma de uma bobagem realmente exemplar! — aponta que Dilma ou Lula poderiam vencer a disputa no primeiro turno…
Já seria
delinquência intelectual e política suficiente fazer como fazem os
petralhas, que, para usar a linguagem deles, “esfregam isso na cara” dos
“reacionários” (Sarney, Maluf e Collor são progressistas; tenham a
bondade de não confundir…). Afirmam coisas mais ou menos assim: “Estão
vendo? Não adianta nada!” Mas eles não se contentam com isso: acham que a
popularidade da presidente e do próprio Lula são a evidência, então, do
que chamam de “golpe”. Eu ainda não entendi que golpe é esse que seria
desferido contra alguém que não está no poder. De resto, golpe dado por
quem? Pela Polícia Federal? Por Marcos Valério?
A minha
estranheza é justamente esta: por que vocifera o PT quando deveria estar
comemorando? Às vezes, a gente fica com a impressão de que esse é um
movimento preventivo para se resguardar do pior para eles, que pode
ainda não ter chegado.
Concluindo…
No encontro, eles teriam debatido ainda a reforma e a valorização da política. Entendi. Lula também tem uma fórmula mágica para resolver o conflito dos royalties segundo Cid Gomes: “O presidente sempre pregou o diálogo, mas, às vezes, se tem de radicalizar para encontrar um caminho para o meio termo”. Não entendi se Lula parou no “diálogo”, sendo o resto da lavra de Cid, ou se o petista responde pela formulação inteira.
No encontro, eles teriam debatido ainda a reforma e a valorização da política. Entendi. Lula também tem uma fórmula mágica para resolver o conflito dos royalties segundo Cid Gomes: “O presidente sempre pregou o diálogo, mas, às vezes, se tem de radicalizar para encontrar um caminho para o meio termo”. Não entendi se Lula parou no “diálogo”, sendo o resto da lavra de Cid, ou se o petista responde pela formulação inteira.
Bem, com a
concordância de ao menos um governador tucano, Teotônio Vilela Filho,
agora já sabemos: não importa o tema, Lula tem de ser posto acima das
leis vigentes no país. Já os petistas, é certo, apenas fazem política
quando anunciam a pretensão de criar uma CPI para investigar as…
privatizações do governo FHC. Encerro lembrando que os petistas fizeram
pressão parecida às vésperas do julgamento do mensalão — a CPI do
Cachoeira, como se lembram, foi usada como parte da pressão. Não deu em
nada. Mas eles são petistas. E não desistem nunca!
A
conspiração não vai continuar porque não há conspiração nenhuma. A
imprensa digna desse nome continuará a dar notícias quando notícias
houver. E torço para que Ministério Público Federal e Polícia Federal
continuem a cumpir o seu papel, sempre nos limites da lei.
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